domingo, 30 de maio de 2010

No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas (??)

A matéria a seguir foi publicada na edição on line do jornal Folha de São Paulo. Seu título, No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas,  tenta encobrir, sem sucesso, o racismo que há na relação das chamadas Maria-Chuteiras com os deslumbrados jogadores negros de futebol.

Aqui temos algumas questões que merecem vir à tona. A primeira refere-se ao negro que consegue ascender socialmente neste país e para completar a sua ascensão ele "necessita" ter uma mulher branca como companheira. Uma outra questão é que o homem negro só é aceito pela mulher branca se apresentar uma condição social elevada e, principalmente, uma conta bancária polpuda. Sim, há exceções, porém, raras. Vale recordar que são uniões que sofrem com os estereótipos, tais como: "ela gosta da coisa preta", ou o "negro de alma branca" que a família da mulher branca é obrigada a aceitar. Outro ponto a ser levantado é  de como o estereótipo do negro como objeto sexual permanece em nossa sociedade, a verdadeira máquina de sexo. Se com o homem negro é assim, não preciso mencionar o que a mulher negra passa.

Por isso, afirmo aos irmãos negros que há mulheres brancas que jamais nos relacionaremos porque elas sentem nojo - sim, irmão, é esta a palavra! - de negros, assim como conhecemos diversos brancos que não se relacionam com mulheres negras pelo mesmo motivo.

Portanto, irmão, quando conseguir atingir um patamar social no qual os da nossa cor são tão poucos, quase inexistentes, não faça como esses jogadores de futebol, não se esqueça daquela sua pretinha. Nós, negros, agradecemos.
Ricardo Riso


No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas
FERNANDA MENA, DE SÃO PAULO

O futebol é uma varinha de condão. Dentre as mágicas de que ele é capaz, está a de diluir, e mesmo apagar, a questão racial de quadro quando o assunto é de ordem amorosa ou sexual.

"O futebol é um dos únicos espaços em que a questão racial é menos importante para as mediações amorosas", diz a pesquisadora Leda Maria da Costa, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade da Universidade Federal Fluminense.

"Não importa a cor ou a beleza, o que interessa às mulheres fascinadas em jogadores de futebol é a aura e o status social que eles têm."

A conversa entre mulheres é flagrante, conforme a Folha apurou nos corredores e nas arquibancadas do Parque Antarctica, no último dia 22, durante a partida entre Palmeiras e Grêmio.

Qual o jogador é seu objeto de desejo? "Vagner Love", dispara, sem piscar, a advogada Neide Delaurentis, 35, escova no cabelo, rosto maquiado. Gosta dele pela beleza ou pela conta bancária? "Ah, pelas duas coisas."

Ficaria com ele se fosse apenas um vizinho, e não um jogador famoso? "Aí não", admite.

"Não que eu seja racista, mas, se uma pessoa negra me abordar, vou pesquisar se ele é advogado, jogador de futebol, homem trabalhador. Se for jogador de futebol, o que está relacionado é o dinheiro mesmo", completa.

A empresária Gilmara dos Reis, 24, também não esconde como o mundo de fama e riqueza do futebol pode moldar --ou liberar-- seu desejo.

Quando vai aos estádios, deixa o namorado "branquinho" e não tira os olhos das pernas musculosas dos jogadores de pele negra.

"É cada pernão", diz, se abanando.

Mas, se há tanto fascínio pelo corpo do homem negro em campo, por que não procurá-los fora dos estádios?

"Ah, não. Se não for jogador, eu fico com meu branquinho lá em casa."

Leda tira a teima: "O que media a relação é o status do jogador, e não mais sua cor ou sua raça. Aquilo que pode ser um fator decisivo nas escolhas amorosas deixa de ser importante dentro do universo do futebol."

A pesquisadora estudou a figura das marias chuteiras em oposição à ascensão da figura da torcedora mulher. E destrinchou o momento em que o jogador de futebol emerge como objeto de desejo feminino.

Foi nos anos 1920 que a figura do homem atlético substituiu a figura franzina e sisuda do homem das letras, que antes povoava as fantasias das moças. Essa mudança surge aliada à visibilidade social que os jogadores começam a ter com a popularização do futebol.

"Existe um percurso imaginário em torno do jogador de futebol, que não só atrai fisicamente mas que também é rico e está absolutamente imerso na mídia."

Mais recentemente, o tetracampeonato de 1994, ao quebrar um jejum de 24 anos, promoveu o futebol a tema de colunas sociais e revistas de celebridades, evidenciando os salários milionários e a rotina de férias, carros e roupas de luxo dos jogadores.

Nesse contexto, a mulher bonita se torna apenas mais um símbolo de status, como um carro do ano.

Para Leda, no entanto, as diferenças pesam, mesmo que veladamente. "Qualquer negro que ascende socialmente e se casa com uma branca é cobrado por isso. E o caso do jogador de futebol não foge à regra. É uma questão complexa.